quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A coadjuvante (Ana)

Interpretando Ulisses, por Sergio Biscaldi


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Anna não falava do que fazia, nem de como tinha sido seu dia. Restringia-se em comentar de suas begônias que nunca duravam mais que duas semanas, dos pelos do gato que a fazia perder os domingos varrendo a casa e dos familiares que nunca podiam visitar na Itália. Às vezes, com muita cautela, falavam de assuntos íntimos como o fato de nunca terem casado ou dos motivos que as faziam não querer homens por perto, com exceções das noites de calor e volúpia nos bailes da adolescência.

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O que mais a chocava era que, por mais picantes que as histórias fossem ficando ao longo da noite, menos reais elas pareciam. Nenhuma delas tinha sido vivida realmente e, embora a irmã dissesse sentir os resultados nos olhares alheios, Anna tinha certeza de que isso podia ser ilusão de sua parte. De um modo ou de outro, as encenações de Alice começaram a causar-lhe inveja. Uma pitada de vontade de repetir esses atos compulsivamente, sair pela rua nua, encarnar o capeta.

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(Trecho do conto "Ana", do livro NósVósElas, de Sabrina Sanfelice, Editora Patuá)