O que Lola mais gosta de fazer é ouvir pedaços de histórias das quais ela não conhece o começo e nunca fica sabendo do fim. No fim da noite, ao chegar em casa, ela escreve todos esses diálogos detalhadamente e, numa brincadeira quase infantil, junta pedaços de textos sem relação nenhuma, une vidas que nunca se encontraram, faz com que a amante de um senhor de 70 anos que bebe cachaça seja, apenas em sua imaginação, a estudante mais cobiçada da turma de Direito.
Seus textos não têm função nenhuma, não saem da cabeceira de sua cama, não são lidos por ninguém, mas são para ela como os familiares queridos que cuidou: pedaços da história de alguém que são saboreados como se fossem seus. Afinal, quem não tem vida, alimenta-se de quê? É só observar as pessoas que estão com tédio falando o dia todo dos outros e esquecendo que a vida está passando. Por isso, Lola não é diferente. Não pode ser considerada uma pobre coitada que não tem vida própria. Tem muita gente espalhada nesse mundo que acha que tem vida, enquanto não passa de alguém que ainda espera viver.
O melhor de ser assim é não precisar criar expectativas, não depender de um sim ou não, sucumbir por um olhar, beber para esquecer. É estar na platéia o tempo todo, sentir tudo o que é visto no palco e, ao ficar de pé e aplaudir, lembrar de que são todos atores e que aquela não é sua história, aqueles não são seus sentimentos. É apenas o fruto de sua imaginação interagindo com a idéia dos outros.
(...)
(Trecho do conto "Dolores", do livro NósVósElas, de Sabrina Sanfelice, Editora Patuá)
19 comentários:
Sabrina agradar a Deus .. brava. complimenti da un tuo jogador afastado ..
conheço alguém que gosta de ler trechos de livros alheios em metrôs.
ah, mr. wilde deveria acessar este blog para saber o que a frase dele foi capaz de despertar em você.
Sabrina, é admirável a maneira como você escreve. O resultado da escrita é tremendo. Sempre é bom te ler.
Abraço.
Arrebatador! Nos remete a uma reflexão pura e simples : "...Estou pronto pra viver... Doa a quem doer..."
hum.... Lola é interessante...
quero saber mais!
rs
Sazinhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Nossas vidas são incompletas.
E, talvez até por isso, paremos um pouco
só pra contemplar
outras vidas.
Pra ver se aprendemos o que falta
pra completar a nossa.
Como somos tolos...
Lembrando e misturando o que senti no primeiro dia que li e hoje posso dizer, ótimo texto, muito bom, como outros claro. Mas realmente esse mistério do amor é maior que da morte, e você deu um grande exemplo disso... Beijo...
muito bom texto!
Gosto das tuas visitas, qrida! Sempre! =)
=*
Olá Sabrina.
Retribuo a visita. Esta história está absolutamente fantástica. Vou voltar.
BM
criativa, mas não só isso. gosto muito do que escreves.
Sabrina, com atrazo, agradeço pelas palavras. Vou continuar a postar.
Sobre a revista, o acesso é livre. Mas, como já participo dela, posso abreviar suas dúvidas a respeito, se quiser. O formato é interessante e exercita. Acho que tem tudo a ver com o seu estilo de escrita.
Qualquer coisa, estou aqui.
bjo.
Lindo texto, Sabrina! Bem cinematográfico, acho que daria um ótimo curta! ;)
Beijosss
Saudade saudade..il tempo passa i ricordi restano.
Maurizio
Llegué y te dejo un saludo
pacobailacoach.blogspot.com
Quando lia pensava no comentário, bobeira minha, não me penetrei por inteiro e no final você me deixou sem comentários.
Bjs
ns
Adoro a fatalidade da vida!! Teu texto é sedutor... composição ímpar!! (Confesso: me sinto um pouco Lola... quem sabe a vida chegue!!)bj
De uma força extrema. Senti como se estivesse a viajar e ter seu texto como inspiração para futuras aventuras que serão vividas.
Postar um comentário