Beleza sagrada, por Sabrina Sanfelice, julho de 2013
(...)
Essa era
exatamente eu. Uma pessoa que, por fora, opta pelo básico e pelo discernimento,
a completude de palavras bem colocadas e, por dentro, tem um fumacê tão grande
que é impossível ver alguma coisa, senão um emaranhado de intenções mal
resolvidas. Eu era, até o atual momento, uma catástrofe genérica, a pior
espécie de alguma coisa, porque eu não era nem o ovo, nem a galinha.
(...)
Todo esse
falatório me silenciou por dentro. Não consigo mais me ouvir de tanto que eu
falo. E agora, a única pessoa que realmente me ouvia morreu. Como é que eu vou
saber o que quero, o que realmente se esconde de mim se eu não tenho mais quem
interprete tudo isso? Estou aniquilada, fadada ao fracasso, condenada a viver
eternamente com o ressoar do eco de minha voz naquele discurso hipócrita de
Maomé na montanha. Isso não serve para mim. Pode até servir para muitas
pessoas, pode levar luz ao túnel dos desesperados, mas e o meu desespero? Deus
me abandonou e ainda por cima está me punindo porque deve achar que eu tentei
usar de seu poder como algo atribuído.
(...)
(Trecho do conto "Luci", do livro NósVósElas, de Sabrina Sanfelice, Editora Patuá)
(Trecho do conto "Luci", do livro NósVósElas, de Sabrina Sanfelice, Editora Patuá)
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