Para todos, Sabrina Sanfelice, 2013
Adeus, ano ímpar
Como diria Marcelo Rubens Paiva, feliz ano velho! E foi feliz mesmo,
enquanto durou. Não, não o ano. A felicidade mesmo. 2013 durou todo o ímpeto
que um ano ímpar pode causar. Chegou e destruiu muita coisa. Como um bom número
13, quebrou o espelho em pedacinhos, dando reflexos de nós mesmos espalhados
por todos os cantos e, como todo espelho que se parte: azar. Mas alguns nem
atribuo a ele, afinal, muitos desses estilhaços nos acompanham há muito mais tempo
do que esse ano que finda. Talvez fosse melhor que pudéssemos atribuí-los ao
calendário, assim iriam embora juntos, de mãos entrelaçadas.
Mas talvez os que morrem com a virada sejam apenas os atos em si e
alguns, particularmente, me entristecem. Queria reviver algumas cenas bonitas de
2013. Uma retrospectiva com direito a uma máquina sensorial. Acesso remoto à
memória. Queria ver algumas pupilas acendendo de novo. Vi algumas
recém-nascidas, olhos que acabaram de acordar e outras que, cansadas,
puseram-se a lutar pelo renascimento. Vi multidões de olhos juntos sairem às
ruas acendendo a lanterna dos afogados. Vi gente nova no pedaço acender a chama
de corações cansados de lutar. Vi gente que já tinha visto e, dessa vez, vi de
verdade. Vi coisas que deram vontade de ver mais. Revi, em vários sentidos, a
minha própria existência e as coisas que vivem em mim. Vi, vivi, venci.
Venci o estigma de que 2013 foi ruim. Acabo-o com a nostalgia de quem se
despede de alguém que sabemos que não mais veremos, mas que vai ficar passeando
pela mente, latente, latejando ainda – pelas dores e amores, os cacos de vidro
que partiram, furaram, feriram, marcaram, deixaram o rastro de uma experiência
que mesmo quando finda ainda dói, aquela dorzinha esquisita, quando o tempo
esfria e sentimos lá no fundo a cicatriz da saudade.
Adeus, ano ímpar. Que o próximo possa vir aos pares. Em todos os pares
de olhos que espero reacenderem a chama que vi brilhar em 2013.
Sabrina Sanfelice, 31 de dezembro de 2013
Um comentário:
Ano ímpar. Acho que essa é a melhor definição que tenho pra 2013 - eu usava "estranho", mas "ímpar" é melhor. 8)
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