segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Desabafo em novembro

Solo, silêncio orfeão. Autorretrato. Sabrina Sanfelice.

Desabafo em novembro

Um dia lindo lá fora! Sim, o dia chama, o calor, as coisas boas da vida! Mas, incrível, incrível como por dentro eu sou nublada, ou melhor, eu preciso ser. Depois que descobri que o que me move são (in)justamente essas lacunas, essas interrogações, necessidade de perguntar o tempo todo, de entender, me vi cercada por, quase a todo momento, um sentimento de falta de paz, mesmo enxergando-a em quase tudo o que vejo.

Hoje comecei o dia pensativa e, claro, assim vou terminá-lo. Mas, antes de qualquer coisa, sempre tento, juro, tento fazer as coisas parecerem suaves como são. Hoje separei objetos, ri com cartas antigas que joguei – algumas no fogo, outras no baú – e fiz um macarrão maravilhoso, mistura das receitas que estão em mim: a massa corpulenta da luta e voz italiana e aquela pitada apimentada e forte espanhola. Almocei olhando meu reflexo na taça que fingi tomar vinho branco enquanto a água com gás borbulhava. 

Impossibilidades! Como elas me atormentam! Mas, por hora, prefiro as que identifico, assim, de cara, não as que me vêm como água e ardem como fogo! Ah! Nesses casos temos que fingir, fazer a história ser real. Trocar o som melancólico do jazz por uma sul-africana fantástica que canta com o calor do sol na boca, uma coisa gostosa de verdade, passar pela mentira de ser animadamente feliz – quase intocável pelo medo de não ser – e ainda aqui estou, sem efeito. 

Incrível como minha mente continua inquieta! O que quero de mim? E eu tento, como tento, mantê-la calma, suave. Mas, não sou assim. Eu sou como o sangue correndo nas veias. Parou, coagulou, morreu. E vivo fazendo perguntas sobre mim mesma que não quero responder. Morro de medo de saber a resposta. Mas morro mais ainda de medo das respostas alheias. Não! A sonora negação do prazer, do amor, da vida. Se me tapam a boca ignoram toda minha alma.

E fico matutando sobre meu discurso constante que bate nas pessoas e volta para mim, intacto, mas um tanto estranho. Eu queria falar o que realmente preciso e não só falar. Mas girei a tramela quando criança. Uma, duas, três vezes, impulsivamente. Sabia que corria o risco de só falar e nunca ouvir. Mas, Deus, como é difícil dizer algumas palavras! E eu sinto tanta falta de dizê-las! Não, não espero ouvi-las. Eu queria ter a liberdade de dizê-las. E o que me faz calar não é aquela covardia presente nos corações humanos que se amedrontam em não serem ouvidos, não serem nem ao menos notados. É dizê-las e não reconhecê-las saindo de minha boca genuinamente...

...afinal, hoje eu sou palavras, amanhã, bem... amanhã, meu bem, eu sou só silêncio.

E o silêncio, o silêncio pode ser a simples calma que afeta a presença das palavras, mas pode ser a vontade não de proferi-las. E como saber com o que estamos lidando? Como jogar palavras ao vento que não sabemos se vai para o norte ou sul? 

Espera. De quem estamos falando? De quem diz ou de quem não diz? É causa ou consequência?

Não, eu ainda não me calei. Eu estou aqui, enquanto as inofensivas palavras podem sair, espontaneamente. O quão inofensivas são essas palavrinhas inocentes? E o quão avassalador é o silêncio? 

Ambos são tão ridículos e tão bonitos.
Ambos são tão parecidos.
Ambos lutam contra eles mesmos, o tempo todo.
E ninguém ganha troféu, nem reconhecimento.
Só ganha aquilo que pode ganhar: o outro.