terça-feira, 31 de março de 2009

Surpreenda-me, se for capaz (Helena)

Detalhes, por eles mesmos


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Quando ele fechava os olhos, na solidão de seu quarto escuro, conseguia visualizá-la perfeitamente com seus adoráveis defeitos e grandes atributos. Casaria com ela só para observar, durante toda sua vida, as mudanças constantes que lhe permitiam a cada dia uma história, uma lembrança e, conseqüentemente, páginas e páginas de um livro.

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O gato, magro, de olhos esbugalhados veio ao seu encontro implorando por comida. A sala estava uma bagunça.
Entrou chamando o nome dela para que desse um jeito naquilo tudo. No quarto, a cama por fazer, cigarros e cinzeiros espalhados, sujos. Na cozinha, de onde vinha o cheiro do bolo, a luz também estava apagada. Jorge recuou, tentou se lembrar se a deixou dormindo ou se estaria viajando. Não lembra, só lembra das passagens do livro. O telefone toca. Sua memória é interrompida pelo presente. Atende.

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(Trecho do conto "Helena", do livro NósVósElas, de Sabrina Sanfelice, Editora Patuá)

quarta-feira, 11 de março de 2009

Cara ou Coroa (Emília)

Siamesas, por Sabrina Sanfelice (auto-retrato)


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Quando nasceu, sua mãe demorou dois dias para dar-lhe um nome. Ficou entre Caterina e Giulia, mas escolheu Emília porque, na dúvida, fechou os olhos e pensou: “o primeiro deles que vier em minha mente será o nome de minha filha”. Como na TV de seu quarto passava o Sítio do Pica-Pau Amarelo, teve, por (auto)honra, que colocar o nome da menina de Emília quando ouviu Narizinho gritando para a boneca de pano e o nome que veio a mente não conseguiu ser nenhum dos outros dois.

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(Trecho do conto "Emília", do livro NósVósElas, de Sabrina Sanfelice, Editora Patuá)