(...)
Quando ele fechava os olhos, na solidão de seu quarto escuro, conseguia visualizá-la perfeitamente com seus adoráveis defeitos e grandes atributos. Casaria com ela só para observar, durante toda sua vida, as mudanças constantes que lhe permitiam a cada dia uma história, uma lembrança e, conseqüentemente, páginas e páginas de um livro.
(...)
O gato, magro, de olhos esbugalhados veio ao seu encontro implorando por comida. A sala estava uma bagunça.
Entrou chamando o nome dela para que desse um jeito naquilo tudo. No quarto, a cama por fazer, cigarros e cinzeiros espalhados, sujos. Na cozinha, de onde vinha o cheiro do bolo, a luz também estava apagada. Jorge recuou, tentou se lembrar se a deixou dormindo ou se estaria viajando. Não lembra, só lembra das passagens do livro. O telefone toca. Sua memória é interrompida pelo presente. Atende.
(...)
(Trecho do conto "Helena", do livro NósVósElas, de Sabrina Sanfelice, Editora Patuá)