sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Verônica

Ponto de equilíbrio, por Sabrina Sanfelice

Com o corpo ainda quente em seu colo, Heloíse começou a recordar de Anna, a amante mais marcante de seu pai. A cena, vista pelo vão da porta do quarto, parecia uma dança dos corpos. Um homem com volúpia de paixão entrelaçava o corpo farto de uma garota que, apesar da pouca idade, esforçava-se para mostrar seus encantos através dos atos.

(...)

Os olhos dela secaram. Já não se notava mais o brilho das pupilas que, radiantes, abriam com a chegada de um sorriso. Debaixo das olheiras de cansaço, estava uma expressão medíocre de definhamento. A diferença entre um ser humano morto e um ser humano limitado de seus maiores dons é somente a alteração das pupilas. Quando morremos biologicamente, somos dominados pela escuridão visual. Quando morremos por não sabermos fazer nossas escolhas e sucumbimos ao egoísmo alheio, somos dominados pela clareza do medo.

(...)

(Trecho do conto "Verônica", do livro NósVósElas, de Sabrina Sanfelice, Editora Patuá)

28 comentários:

Fernanda Magalhães disse...

Sabrina adoro te ler!

Vim desejar um bom dia e volto mais tarde com calma e tempo pra deliciar a minha alma com esse novo conto.

Bjos de luz!

Beauvoir disse...

Sabrina, teus textos enlouquecem-me, inquietam-me. Adoro-os.
Quando começo a te ler, já não quero parar!
"A diferença entre um ser humano morto e um ser humano limitado de seus maiores dons é somente a alteração das pupilas": fantática essa frase!
Beijos

Anônimo disse...

"Humano, demasiado humano",
Nietzsche diria...
Humm, mulheres que se misturam, em corpos e vidas, ou seria uma única múltipla mulher que se desdobra nela mesma?
Sá, como sempre, fantástico!
Infinitamente surpreendente você!

rogério disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Sabrina, Sabrina... porque fazer isso com alguém como eu?

Aplausos pra vc guria!

"Como quem chega para logo ir embora", a paixão é sempre assim.

Fabio.

Ariana Luz disse...

rapaz..que amor-lésbico do caralho(rsrsrsrsr..como vi um dia por ai)

olha,mas eu gostei =*
gostei mesmo,senti falta das tuas visitas, moça.
vou te colocar em minhas outras primaveras..

flores.

Anônimo disse...

sabrina, seus textos são sempre muito densos para fazer 1 único comentário.
confesso que me perdi um pouco entre os personagens e acontecimentos, talvez precise reler (pela 3ªx) para acompanhar mais de perto as suas sutilezas.
do mais, o que destaco nesse texto é a clareza que você me passou na descrição do ambiente e da cena que se passa atrás da porta. praticamente pude enxergar tudo e, se me permite, até me exaltar.
gosto tb das revelações que vão acontecendo no desenrolar do texto, sempre em doses homeopáticas e por vezes surpreendentes.
pra encerrar, fico a pensar se o tal homem seria ulisses ou se este texto está desconectado dos outros.

Débora Cunha disse...

eu estava escutando emilie simon quando lia, não seis e tu conheces "le desert", canção bastante intensa, casou bem com o texto.

amor é complicado demais, eterno e finito demais, e tão fácil perder a noção da finitude do amor e início de qualquer outra coisa... até que caia a ficha e a gente perceba que nada mais é o que deveria ser... se é que podemos dizer o que as coisas deveriam ser.

beijo, bom domingo

Sandra Regina disse...

uau! entorpecida com tuas palavras... denso... tenso... intenso...tudo reverbera diante dos olhos... preciso reler... (gosto de prosa que prende...rs... mergulho ainda... )ai... já sou fã! beijossss

J.F. de Souza disse...

(Ué?!?!?! Cadê meu comment???) =?


Mas é tão fácil perceber:
Paixão
é sempre perigosa
Já o Amor
esse é bom
e sempre necessário

O problema, talvez,
esteja
em nos fazerem acreditar
que o perigoso
é bom e necessário...

J.F. de Souza disse...

É... Fiquei na mesma dúvida do Serjones tbm...

E, como ele, sinto que preciso reler isto tudo... Mas, no meu caso, já será a 4ta vez! (Alguns sofrem mais...) =P

Béa Pedrosa disse...

paixão e amor, sentimentos que se confudem, mas são tão diferentes...

interessante como você conta essa história... me deixou com gostinho de quero mais.

uma ótima semana!

beijos!!

Anônimo disse...

Realmente esse texto considero um dos melhores, mais reais (ou irreais, depende do ponto de vista), e profundos ao que se pode dizer da experiência entre os amantes..... amantes como nós... como outros.... ou talvez como todos! Beijo do Mau.

Marina disse...

A diferença entre um ser humano morto e um ser humano limitado de seus maiores dons é somente a alteração das pupilas. - essa frase é realmente fantástica!

vou voltar por aqui pra te ler mais! obrigada pela visita e pode linkar sim! ;)

beijoss

Anônimo disse...

Saz, estás divina aqui!
Que foda este texto!

Entre a fúria e a doçura, há um elo entre o amor e a loucura.

bjs

Fernanda Leturiondo disse...

Oi Sabrina! É um presente ser link em blog tão lindo e intenso. Obrigada.

Texto forte.. Sempre me desequilibram, aliás. E provocam releituras.. Idas e vindas

um bjo

Leandro Jardim disse...

link retribuído :)

Anônimo disse...

O melhor de poder te ler é que, de fato, te leio.

Ariana Luz disse...

rsrsrsrs...agora vc me pegou

=*

flores.

Alessandra Castro disse...

Personagens tão vivos que nos deixam pensando em quem conhecemos assim. Adorey. ;)

Já disse que amo o titulo do teu blog?

Camila disse...

sabee naum a li a 1º partee maas gosteei dessa hehee


bejoo

meus instantes e momentos disse...

Instigante, excitante....
Maurizio

Cesar Dutra disse...

Qualquer película seria pobre, se quisesse transcender, o filme triste, pelos ricos detalhes incapazes de perceber.
Lendo você, imaginei uma produção, mas impossível numa tela acontecer. Cada detalhe é vivo e grande demais pra limitar uma direção. Seria pecado isso acontecer!

bjo

João Videira Santos disse...

...E as palavras foram devoradas pelo ritmo da leitura!

Ariana Luz disse...

jah tava sentindo falta de você, por ond andas?

..é tudo tudo mt verdadeiro e cruel oq vc me pos(con)tou...e enfim.oq se há de fazer com tais retas?mudar suas estruturas?..impossível.


flores.

- disse...

muito interessante!

Alessandra Castro disse...

Por onde andas? ;)

bianca disse...

Gostei muito. Quase como um filme de Lynch no qual a gente se perde nas imagens e informações- sem saber se aquilo que a gente viu tem qualquer conexão com o que foi visto antes e foi visto depois, mas que faz todo sentido. Como se o que se vê e o que se é dito não pudesse ser levado/entendido como fato/verdade. Muito bom.