domingo, 1 de setembro de 2013

A morte do homem (Luci)

Beleza sagrada, por Sabrina Sanfelice, julho de 2013

(...)

Essa era exatamente eu. Uma pessoa que, por fora, opta pelo básico e pelo discernimento, a completude de palavras bem colocadas e, por dentro, tem um fumacê tão grande que é impossível ver alguma coisa, senão um emaranhado de intenções mal resolvidas. Eu era, até o atual momento, uma catástrofe genérica, a pior espécie de alguma coisa, porque eu não era nem o ovo, nem a galinha. 

(...)

Todo esse falatório me silenciou por dentro. Não consigo mais me ouvir de tanto que eu falo. E agora, a única pessoa que realmente me ouvia morreu. Como é que eu vou saber o que quero, o que realmente se esconde de mim se eu não tenho mais quem interprete tudo isso? Estou aniquilada, fadada ao fracasso, condenada a viver eternamente com o ressoar do eco de minha voz naquele discurso hipócrita de Maomé na montanha. Isso não serve para mim. Pode até servir para muitas pessoas, pode levar luz ao túnel dos desesperados, mas e o meu desespero? Deus me abandonou e ainda por cima está me punindo porque deve achar que eu tentei usar de seu poder como algo atribuído.

(...)

(Trecho do conto "Luci", do livro NósVósElas, de Sabrina Sanfelice, Editora Patuá)


Nenhum comentário: