segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Dislexia diseidética (Maria)

Eu te amo em todas as línguas, fotomontagem, Sabrina Sanfelice.



(...)

Isso é como subestimar a essência da nossa capacidade de ir além da linguagem oral. Ainda somos carne, alma e coração. E, como dá trabalho e pode ser fatal atingir os dois últimos, podemos escolher a primeira ao invés da complexa linguagem. Eis que, então, surge um mal-entendido, um gesto estranho, uma palavra mal colocada, um suspiro de ódio com cara de rancor, uma lágrima disfarçada, um deixa pra lá, é melhor não dizer. Isso mesmo! Se é melhor não dizer, não diga. A não ser que você queira ser o culpado. Em todos os sentidos. Mas o pior deles é que você vai ser culpado em acabar com a graça da história. E quando a história acaba, acabou.

Mistério é mistério. Se for decifrado, perde a graça. E quer coisa mais sem graça do que deitar na cama com todas as coisas resolvidas? A força do sexo está no quanto se desconhece. É o mapa do tesouro, é o pote de ouro no fim do arco-íris, é a galinha dos ovos de ouro do gigante do pé de feijão. Porque, de certa forma, tudo flui para um descobrimento pelos meios mais incisivos e perspicazes. E pode rolar de tudo, de cócegas a chantagem, posições e limitações. Você pode se vingar, pode pedir perdão da forma mais doce, pode ir das lágrimas ao riso, da raiva ao amor.

E pular essa parte é quase como marcar a data de uma festa surpresa com o próprio aniversariante. E foi exatamente o que eu fiz. Quis tentar decifrar o enigma da esfinge. Decifra-me ou devoro-te. (...)

(Trecho do conto "Maria", do livro NósVósElas, de Sabrina Sanfelice))

Um comentário:

UIFPW08 disse...

E' un piacere seguirti Ssabrina, scrivi delle cose sempre bellissime. Complimenti
Maurizio