domingo, 9 de março de 2014

A copla do agônico

"Luna caida", por Sabrina Sanfelice, Recoleta, Buenos Aires, 2009.


Tem um monte de dor
Que vaga sóbria
Cobre o ser de luz
Para que, sozinho, chore

E cada segundo do pranto
Faz do sofrimento um tudo
Um pouco de amargo
E muito de santo

O gosto que desce as amígdalas
Alimenta a alma
Pouco a pouco
Deixo-o intrínseco

Na ânsia, quanto mais dói
Mais clama, mais chama
Mais rima a trama
Do poeta triste

E ele vê, claramente
Que de genuíno o peso da vida
É como chumbo
Leve como pena

A pena do moribundo
Daquele que chora
Enquanto as palavras saem
Soluçantes, pingo a pingo do tinteiro

O papel é aquele que se entrega
Em branco, sem vida
Grita aflito pelas horas
Em que cada sílaba o corrói

E a dor que antes sóbria
Agora bebe tudo
Afoga em mágoa o bobo
Embebeda de glamour o escrever

E o homem, o que precisa delas
Uma a uma
Todas, no feminino
Dor e palavras a seu bel prazer

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