domingo, 16 de março de 2014

Metrópole

Encontro inesperado, Cemitério do Araçá, Sabrina Sanfelice, 2013.

Desencontro
Desencanto
Parada, no meio-fio
Quero ir
Qualquer esquina
Uma eira,
Planície, montanha
O boteco sujo
O banheiro ao lado
Peço com a mão
Num gesto tímido
Preciso entrar!
Perdi a linha
As estribeiras
O motorista, rindo
Me acena
Como quem diz
Vai passar!
Do outro lado
O estranho chama
E fala agoniado
Foi engano!
E entende mal
Fica puto, o coitado
Eu imploro
Fala comigo!
Não desligo
Repito, apressada
Com quem você quer falar?
E sento,
Na beira
Do eu-mudo
Do colapso
Em pé cansa
Não sinto mais
A sola dos meus passos
E lerda, pairo no ar
Com um pensamento irado
De morte,
Ora de sorte
Punhos cerrados
Pela mínima possibilidade
De te achar
Agora ando
Empurrada
Pela rotina estranha
De qualquer ser humano
Que do amor
Só sobrevive
Meu olhar é vago
Triste, de gente coitada
Esquecida
Até a florista tenta
Quando passo
Me encantar 
Me oferece odores
Falsos, de margaridas
Que só me lembram
Ainda mais
Cravos, todos
Enfiados no músculo
Da minha alma traída
A contragosto
Mudo a rota, dobro a esquina
Subo a rua à direita
Da sua, sempre sua
Aquela rua,
Tortuosa
Que não cabe
Não mais
No curvilíneo
Corpo, afoito
Meu, antes seu
O mapa que me deram
Desatualizado
De uma cidadezinha 
Minúscula
Onde todos se conhecem
E sabem
Não há prédios
E enfeites
Que tirem a atenção
A gentileza
Dos encontros da vida
Não há paradas vazias
Onde o silêncio
Nunca encontra palavras
Para dizer, mesmo baixo
E, por vezes, necessário
Oi, tchau.

2 comentários:

Divulgação Cultural disse...

Muito bom !!!!!

M.Mei disse...

Das possibilidades todas... Adorei o poema!